Saturday, June 26, 2010


(foto de Edward VII, ainda príncipe, encolhendo a barriga)


Viagem

É preciso de um tempo para introjetar, depois de muita jactância criativa. É como fumar um cigarro e conversar um pouco entre duas ejaculações.
Há alguns dias atrás, era isso o que dizia Spike Jonzee no final de sua entrevista no Festival de Cannes. Uma oportunidade excepcional para justificar o silêncio desse blog nos últimos anos, com testemunhal de celebridade e tudo o mais.

Baby, I’m back! (again)

Estou viajando há vinte dias e prometi fazer um diário. É claro que não fiz. Nunca consegui escrever diários, nem twitter consigo usar. Da viagem pela TAP, só lembro dos exuberantes bigodes das aeromoças, a essa altura. Mas vou tentar escrever algo de que me lembro dessa jornada de introspecção e autoconhecimento... um diário póstumo da viagem.

Cheguei a Lisboa simultaneamente ao retorno da Joka de Berlin, onde finalizava a imagem do documentário “O Samba Que Mora Em Mim”, que dirigiu. Fiz a trilha e sou o supervisor de som. Estávamos em Lisboa para fazer a mixagem do longa.

Quando chego a uma cidade que não conheço, geralmente eu saio correndo pelas ruas, para ter uma primeira impressão não guiada. Era domingo e estava tudo meio parado, as férias européias ainda não haviam começado. Corri até o parque Eduardo VII, um ponto elevado da cidade, de onde você pode ter uma vista geral da parte histórica da cidade. Esse rei Eduardo VII da Inglaterra, que dá nome ao parque, era filho da Rainha Vitória, depois eu aprendi, coincidentemente, lendo uma revista super arrogante chamada “Inteligent Life”, que é um suplemento cultural de The Economist. Ele viveu muitos anos esperando a morte da mãe, que sobreviveu muito mais do que se esperava. As maiores realizações do seu curto reinado resumem-se em alguns pontos principais:

1. A popularização do uso do tweed, iniciado por ele no resort tcheco de Marienbad, uma espécie de Araxá européia, onde ele fazia terapias para os seus males renais e articulares.
2. A popularização do uso de dinner jackets e gravatas pretas à noite, substituindo as casacas com cauda e gravatas brancas.
3. O hábito de deixar o botão inferior do paletó desabotoado, que persiste até hoje, e é reputado à existência do seu fenomenal barrigão.

Enfim, um rei que foi coroado aos 60 anos e morreu aos 69, levou uma vida hedonista e auto-indulgente como príncipe de Gales. Mas a personagem é boa. Imaginem sua mãe rainha Vitória, já cansada, sem poder confiar no filho devasso e pouco brilhante (nunca foi bem nos estudos). Imaginem sendo coroado, sob o olhar desaprovador dos conselheiros, seu reinado de 9 anos, ocupados na maior parte por visitas a resorts elegantes da Europa, sempre seguido por análogos de paparazzi que iam fotografando e desenhando tudo o que ele fazia ou usava. Os tratamentos com águas termais, águas sulfurosas, banhos de lama, os gerentes do Império percebendo as oportunidades para o envenenamento...

Já que mencionei Marienbad, outra coisa me chamou a atenção no artigo sobre o lugar: Goethe era um dos freqüentadores assíduos. No final de sua vida, apaixonou-se por uma moça 50 anos mais nova que ele, chamada Ulrike, que não lhe dava mais que condescendência. O velho babão - mesmo sendo Goethe, salivava como um português de padaria em cima da mulatinha empregada doméstica – era interessado em geologia, e ao jantar mostrava a Ulrike as pedrinhas que achava no mato, durante o dia. A menina bocejava inclemente, mesmo depois que Goethe aprendeu a esconder uns chocolates entre as pedras. Resultado: Ulrike não concedeu, digamos, ao poeta, que escreveu um épico sombrio sobre sua desilusão amorosa e morreu alguns anos depois. Thomas Mann deve ter tirado daí seu “Morte em Veneza”!

Mas este artigo eu li num trem, entre Berlin e Hanau, semanas depois da minha corrida pelo parque Eduardo VII em Lisboa. A vista do lugar:






Depois eu escrevo mais. Estou em Cannes, é sábado, o Danilo e o Mateus estão me chamando para uma excursão de queijos e vinhos. Estou me aproximando da realeza inglesa, belo menos quanto ao diâmetro.

2 Comments:

Blogger Nicklanis said...

Volte sempre!

8:12 PM  
Anonymous Anonymous said...

Cara, fala serio, v inventou tudo isso, ne? Gostei do toque dos chocolates, ri muito. V deve considerar publicacao no "Inteligent Life". E qto aas Purrrrtuguesadas? Eu sempre encontro varios exemplos qdo visito a Terra de Camoes. Depois te conto todas, mas vai parecer q eh piada.

10:50 AM  

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