O Batismo de Bebel
Chegamos à igreja já com alguma culpa: dizem que só se aceitam pais casados na Igreja, para o batismo dos filhos, certamente por falta de vagas para fiéis na Igreja Católica... Mas fomos assim mesmo fazer o curso, dispostos a mentir, caso fôssemos inquiridos.
Não foi necessário. A senhora que ministrava o curso cheirava a colégio de freiras, autoritária e irrefletida, imbuída dos poderes advindos da sua intimidade com o divino, aparentemente. Mas não era freira, depois aprendemos tratar-se de uma Ministra Extraordinária da Eucaristia. Exercia seus poderes com rigor militar, exigindo o preenchimento imediato de uma ficha de cadastro bastante ambígua. Patrícia entrou em pânico, errou meu nome, depois preencheu nome do pai no lugar do nome da mãe e teve de ser substituída. Joguei um charme para a velhota, ela comprou, chegou a sorrir, a danada.
Meia hora depois, quando ninguém mais tinha nádegas para enfrentar o discurso da senhora, dei-me conta de ser, talvez, o único ateu convicto na sala. Ateu, não, agnóstico, vá lá. Mas também o único que sabia quais eram os 7 sacramentos da Igreja, e o único que lia a Bíblia com alguma frequência. Esses paradoxos da vida.
A senhora leu, lá, umas coisas a respeito dos simbolismo do batismo. Essa história do renascimento é que me interessa. O Cristo morrendo e ressuscitando, a água afogando e fazendo renascer o fiel em Cristo. Tudo remete à morte, ou melhor, à esperança de uma vida após a morte, a continuidade, ou seja: a não-morte; vida eterna. Isso sim, é sedutor.
Eu li num dicionário de filosofia que a coisa comum a todas as religiões não seria Deus, ou deuses, ou divindades, mas sim a proposição de uma solução para o dilema da morte. É tudo o que interessa, para quem está vivo: não morrer ou, caso seja realmente indispensável a morte, dar um jeito de voltar, ou de continuar num outro lugar. Deve ser uma delícia acreditar nisso, espero que um dia eu consiga.
Tem gente que acha muito estranho que eu queira batizar a Bebel. Eu acho conveniente. Eu agradeço a oportunidade de ter sido educado tendo um modelo maniqueísta para moldar meus princípios, o Bem contra o Mal, etc. Gostaria que minha filha pudesse contar com essa rede de segurança, também. A dúvida do agnóstico não é brincadeira de criança. Quero que ela cresça acreditando em Papai do Céu, sem medo da finitude absoluta. Amém.
Chegamos à igreja já com alguma culpa: dizem que só se aceitam pais casados na Igreja, para o batismo dos filhos, certamente por falta de vagas para fiéis na Igreja Católica... Mas fomos assim mesmo fazer o curso, dispostos a mentir, caso fôssemos inquiridos.
Não foi necessário. A senhora que ministrava o curso cheirava a colégio de freiras, autoritária e irrefletida, imbuída dos poderes advindos da sua intimidade com o divino, aparentemente. Mas não era freira, depois aprendemos tratar-se de uma Ministra Extraordinária da Eucaristia. Exercia seus poderes com rigor militar, exigindo o preenchimento imediato de uma ficha de cadastro bastante ambígua. Patrícia entrou em pânico, errou meu nome, depois preencheu nome do pai no lugar do nome da mãe e teve de ser substituída. Joguei um charme para a velhota, ela comprou, chegou a sorrir, a danada.
Meia hora depois, quando ninguém mais tinha nádegas para enfrentar o discurso da senhora, dei-me conta de ser, talvez, o único ateu convicto na sala. Ateu, não, agnóstico, vá lá. Mas também o único que sabia quais eram os 7 sacramentos da Igreja, e o único que lia a Bíblia com alguma frequência. Esses paradoxos da vida.
A senhora leu, lá, umas coisas a respeito dos simbolismo do batismo. Essa história do renascimento é que me interessa. O Cristo morrendo e ressuscitando, a água afogando e fazendo renascer o fiel em Cristo. Tudo remete à morte, ou melhor, à esperança de uma vida após a morte, a continuidade, ou seja: a não-morte; vida eterna. Isso sim, é sedutor.
Eu li num dicionário de filosofia que a coisa comum a todas as religiões não seria Deus, ou deuses, ou divindades, mas sim a proposição de uma solução para o dilema da morte. É tudo o que interessa, para quem está vivo: não morrer ou, caso seja realmente indispensável a morte, dar um jeito de voltar, ou de continuar num outro lugar. Deve ser uma delícia acreditar nisso, espero que um dia eu consiga.
Tem gente que acha muito estranho que eu queira batizar a Bebel. Eu acho conveniente. Eu agradeço a oportunidade de ter sido educado tendo um modelo maniqueísta para moldar meus princípios, o Bem contra o Mal, etc. Gostaria que minha filha pudesse contar com essa rede de segurança, também. A dúvida do agnóstico não é brincadeira de criança. Quero que ela cresça acreditando em Papai do Céu, sem medo da finitude absoluta. Amém.
1 Comments:
Dimi,nunca pensei q batizar a Bebel fosse relevante pra vc, de fato. Mas vc sempre me surpreende. E eu acho isso ótimo!Há duas décadas te aprendendo. beijão
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